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Siqueira Campos se encontrou com Cachoeira em 2010!

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O Jornal da Record teve acesso, com exclusividade, a um documento do Ministério da Justiça que indicaria, conforme a emissora, um possível envolvimento do governador do Tocantins, Siqueira Campos (PSDB), com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso na Operação Monte Carlo.
Conforme o jornal da TV Record, exibido na noite dessa segunda-feira, 16, o nome de Siqueira surgiu também em escutas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal, e indicariam que o bicheiro teve um encontro com o governador do Tocantins.

O documento do Ministério da Justiça, a que a TV Record teve acesso, transcreve um diálogo entre Carlinhos Cachoeira e Gleyber Ferreira Cruz, um dos sócios do bicheiro flagrado na Operação Monte Carlo e que também está preso.

Na conversa, Cachoeira diz que tem um encontro marcado com o governador Siquera Campos, e que essa era a hora de tratar dos assuntos envolvendo Deuselino Valadares, que na época era chefe da Polícia Federal de Goiânia.

“O Governador Siqueira Campos foi apresentado em 2010 ao cidadão em questão pelo hoje suplente de senador Ataídes Oliveira, que morava no Edifício Excalibur, e era vizinho do referido cidadão. Siqueira Campos esteve em Goiânia para uma visita a Ataídes Oliveira e foi apresentado a este cidadão, quando tiveram um contato rápido. Este foi o único contato entre os dois.”

Em nota, a Assessoria de Imprensa do governador Siqueira Campos disse que ele foi apresentado a Cachoeira, pelo suplente de senador e então vizinho do bicheiro, Ataídes Oliveira. Segundo o governador, ele esteve em Goiânia para uma visita a Ataídes e foi apresentado “a este cidadão” [Cachoeira], “quando tiveram um contato rápido”. “Este foi o único contato entre os dois”, garante a nota.

A campanha eleitoral de Siqueira Campos, em 2010, recebeu R$ 500 mil da empreiteira JM Terraplenagem e Construção, ligada ao grupo de Cachoeira. Essa doação veio a público com a divulgação de conversas telefônicas pela revista Época, há 15 dias e foi admitida pelo secretário estadual de Relações Institucionais, Eduardo Siqueira Campos. Segundo ele, a doação foi depositada em Goiânia no dia 27 de outubro de 2010.

Nas gravações interceptadas pela Polícia Federal, Cachoeira e o diretor afastado da Delta Cláudio Abreu avaliam as relações com Eduardo e com o ex-governador Marcelo Miranda (PMDB). O bicheiro cobra do ex-diretor da Delta a devolução dos R$ 500 mil doados à campanha de Siqueira através da JM Terraplenagem e Construção, mas desiste ao supostamente se lembrar de que ficaria com os serviços de inspeção veicular do Detran: “Agora vai pagar com aquele trem lá… Tá bom!”.

O bicheiro diz em seguida: “Computa pro cê aqueles 500 mil, lá… Não quero nem ver aquele Eduardo [que seria Eduado Siqueira Campos]”.

Abreu defendeu o secretário: “Não, vai ver sim. Pára com isso, cara! Vai dar certo. O Eduardo também é bom, oh, Carlinhos. Não pode falar mal dele, não. Um cara bom, bicho! Pra você ver… Ele não mandou dar aquele negócio para nós lá? A inspeção veicular? Para você ver… Só isso aí, cara, essa inspeção veicular do Tocantins já mata”.

O secretário Eduardo Siqueira Campos, porém, ressaltou que não tem nenhuma participação na empresa doadora e assegurou que ela não tem qualquer contrato com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), responsável pelo serviço de inspeção veicular.

Depois da campanha
A campanha do governador Siqueira Campos recebeu mais R$ 3 milhões do empresário Rossine Aires Guimarães, 48 anos, apontado nas investigações da operação Monte Carlo como uma espécie de sócio de Cachoeira. Rossine ainda doou R$ 500 mil para a campanha do ex-governador Carlos Gaguim (PMDB).

O empresário é proprietário da Construtora Rio Tocantins (CRT), que também tem o nome de Construtora Vale do Lontra, que recebeu do governo do Tocantins R$ 234.444.617,62, nas últimas três gestões – a gestão do ex-governador Marcelo Miranda, em 21 meses, desembolsou R$ 74,7 milhões; em apenas 15 meses de administração, Gaguim superou os outros dois governantes e pagou ao suposto sócio de Cachoeira R$ 140,6 milhões; e, em 2011, o governo de Siqueira Campos pagou R$ 19,1 milhões.

Empresa totalmente envolvida em supostos esquemas de Cachoeira, a Delta também foi beneficiada no governo Siqueira Campos pela portaria que decretou emergência nas rodovias estaduais e, assim, foi contratada sem licitação para recuperação das estradas do Tocantins. A Delta ficou com um contrato de R$ 14.695.596,17 para obras em Paraíso. O MPE ingressou com uma Ação Civil Pública contra a portaria no dia 3 de agosto do ano passado.

O promotor Adriano Neves defendeu na ação que a má conservação das estradas, “por descaso do poder público”, não é justificativa para a contratação de empresas sem a devida licitação, ainda mais porque elas seriam, segundo relatórios de prestação de contas fornecidos pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), doadoras de recursos para a campanha de Siqueira Campos em 2010.

A Delta ainda é uma das empresas que se propuseram a doar recursos para o que o governo chamou de um ambicioso projeto de modernização da gestão pública estadual, junto com outras, também em sua maioria, doadoras da campanha do governador. O projeto, anunciado em julho do ano passado, estava orçado em R$ 2,7 milhões.

Tocantins na rota do bando
Conforme o site do jornal O Estado de S.Paulo divulgou nesta segunda-feira, o Tocantins é um dos Estados onde empresas ligadas a Cachoeira atuavam, num esquema que movimentou pelo menos R$ 400 milhões nos últimos seis anos. Entre os supostos crimes que seriam praticados pelo bando, conforme investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF), estariam contrabando, exploração de jogos de azar, corrupção e lavagem de dinheiro.

Conforme O Estadão, o organograma feito pela polícia aponta que Cachoeira e outras oito pessoas do seu círculo íntimo de parentes e amigos expandiram a estrutura do grupo para além de Goiás e do entorno do Distrito Federal, onde concentraram a atuação. A maior parte das companhias ativas (30) opera em Goiás e no Distrito Federal, mas o grupo também mantém empresas em São Paulo (2), Paraná (2), Rio de Janeiro (1), Minas Gerais (1) e Tocantins (1). O grupo também já teve operações em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Confira a seguir a nota do governador Siqueira Campos sobre o encontro com Cachoeira:

“O Governador Siqueira Campos foi apresentado em 2010 ao cidadão em questão pelo hoje suplente de senador Ataídes Oliveira, que morava no Edifício Excalibur, e era vizinho do referido cidadão. Siqueira Campos esteve em Goiânia para uma visita a Ataídes Oliveira e foi apresentado a este cidadão, quando tiveram um contato rápido. Este foi o único contato entre os dois.”