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Moradores afetados por enchentes relatam medo de voltar para casa e incertezas com o futuro: ‘É um ano perdido’

Moradores do norte do Tocantins ainda estão assustados com os efeitos da pior enchente em 20 anos no estado. Mesmo com o nível dos rios caindo, muitos ainda hesitam em voltar para casa, com medo de novas cheias repentinas. O drama é intensificado pela incerteza sobre o futuro. As famílias relatam que pastos e plantações inteiras foram perdidas e que não há como recuperar todo o prejuízo deixado pela água nas principais atividades econômicas da região.

O boletim da Defesa Civil divulgado no domingo (30) mostrou pela primeira vez em semanas um número de desabrigados abaixo de 100. Mesmo assim, não há como saber com exatidão a quantidade de desalojados – os moradores que saíram de casa para ficar com parentes e amigos, já que eles estão voltando para as residências por conta própria, sem auxílio das forças de segurança.

A maioria faz visitas diárias para avaliar a situação das próprias casas, mas acaba preferindo dormir em pontos considerados mais seguros. É a situação da maioria dos moradores do Projeto de Assentamento Lago Preto, em Esperantina.

Animais precisaram ser retirados de áreas alagadas para não morrerem — Foto: Arquivo Pessoal

Animais precisaram ser retirados de áreas alagadas para não morrerem — Foto: Arquivo Pessoal

Foi na cidade que foram filmadas cenas que mostram o gado cercado pela água, com animais precisando ser arrastados por barcos para serem resgatados. “Passei quatro dias dando ração para os animais [no meio da enchente] na esperança que a água iria baixar. Infelizmente não baixou e tivemos que tirar todos os animais”, conta o morador Antônio Cassio Santos Alencar.

“Agora a água baixou muito, muito mesmo. No entanto como geral tirou todos os animais, inclusive nós, ainda não retornaram. Até porque ainda está muito cedo, temos medo que venha outra enchente igual ou até mesmo maior”, explicou.

O medo dos moradores é baseado na experiência. Normalmente o período de chuvas mais intenso na região é no mês de fevereiro, e não entre dezembro e janeiro. O temor é que volte a chover com força mesmo onde os temporais deram uma trégua. “Tenho 28 anos de idade, nunca vi uma cheia desse tamanho, prejuízo gigantesco para nos afetados da cheia”, contra Antônio.

Antônio levou alimento para o gado, mas não conseguiu evitar ter que resgatar os animais — Foto: Arquivo Pessoal

Antônio levou alimento para o gado, mas não conseguiu evitar ter que resgatar os animais — Foto: Arquivo Pessoal

A preocupação é compartilhada nas cidades vizinhas. Em Praia Norte a lavradora Francisca Almeida contra que a casa dela já está sem água dentro, mas ainda não está fora de risco. “Já teve três famílias vizinhas nossas que já voltaram, mas ontem eu fui lá na chácara e consegui lavar dentro de casa, mas a área e os arredores continuam com água”, diz ela.

Na propriedade, a família perdeu 250 pés de acerola, 30 de laranja, cerca de quatro mil peixes que eram criados em tanques e ainda pomares com banana, graviola, limão, abobora, pimenta e outros produtos. “Não posso voltar, até mesmo porque o rio ainda vai encher”, lamenta.

Por toda a região moradores dizem não ter como recuperar os prejuízos. Em São Miguel do Tocantins, o município mais afetado, além dos danos no distrito de Bela Vista, as chácaras na margem do rio foram quase completamente destruídas. “Não tem mais como plantar esse ano. Porque mesmo que o rio baixe, até limpar tudo, preparar o solo e plantar já acabou as chuvas. Na seca não cresce nada. É um ano perdido pra gente que vive da roça”, diz a agricultora Antônia Batista.

Mesmo onde a água baixos as casas seguem ilhadas — Foto: Arquivo Pessoal

Mesmo onde a água baixos as casas seguem ilhadas — Foto: Arquivo Pessoal

Todos os afetados fizeram um cadastro com o Governo do Tocantins para que pudessem receber auxílios, mas ainda não sabem quais serão os valores ou quando os pagamentos vão começar. Durante as cheias houve distribuição de cestas-básicas e na última semana o Palácio Araguaia informou que ainda estuda como auxiliar os moradores no longo prazo.

Mesmo com a melhora das condições climáticas na região do Bico do Papagaio, a previsão do tempo ainda é de bastante chuva. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mantém alertas em vigor para a região desde o fim do ano passado. Atualmente o aviso é de nível amarelo, que significa perigo potencial.

Fonte: G1 Tocantins