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Historiador lança livro contando história sobre mendigo que virou santo em Araguaína

Divulgação
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O  professor e historiador Raylinn Barros da Silva foi entrevistado nesta terça-feira, dia 19, está publicando o seu primeiro livro e relata sobre a vida de um personagem marcante na história de Araguaína, o mendigo Pedro Milagroso, que viveu na cidade no início da década de 60, ainda nos primórdios do município araguainense.

O livro intitulado de Pedro Milagroso – O Mendigo que virou Santo será lançado hoje, primeiramente na GEP Livraria, a partir das 8 horas; e logo mais à noite, às 19h30, no auditório da Universidade Federal do Tocantins (UFT), na abertura da Semana de História da UFT, Campus Araguaína.

Início
O historiador contou que a escolha do tema foi pelo motivo de que a religião sempre chamou a sua atenção. “A minha família era católica, minha mãe era católica. Os assuntos de religião sempre chamavam minha atenção”, explicou.

Rayllin disse que quando tinha poucos meses de vida, em agosto de 1978, adoeceu e o médico diagnosticou-o com bronquite aguda, conhecida popularmente como “tosse braba”, sendo desenganado. Falaram para a mãe dele que se pedisse ao Pedro Milagroso, ficaria curado. “A mãe foi até a janela do quarto, no hospital, e fez o pedido para o Mendigo, pedindo a cura dele. No outro dia, estava, surpreendentemente, curado e o médico deu alta. Nem o médico sabia explicar o que tinha acontecido”, relatou.

Pesquisa
Ao iniciar a sua pesquisa, sua primeira preocupação era de não entrevistar a sua mãe. “Fui garimpando as pessoas que viveram em Araguaína, na época dele, que o conheceram. Também com pessoas que não o conheceram, mas fizeram pedidos e foram atendidos por ele”, explicou. E foi assim, através de relatos orais e também documentos, que construiu a história de Pedro Milagroso.

Pedro Milagroso
Para o historiador, Pedro Milagroso é uma pessoa muito interessante. “Às vezes ele se vestia de padre, outras vezes de São Francisco, e em outras, se vestia de mulher. Ele tinha distúrbio mental”, relata. “Ele assustava a população com este comportamento extravagante”, completou. “Muita gente o temia, mas muita gente o admirava”, destaca o professor. “Então ele era amado, temido, odiado, tinham medo dele por esse comportamento que ele tinha”, afirma o historiador.

Morte de Pedro Milagroso
O historiador conta que Pedro Milagroso foi assassinado, com resquícios de tortura, na região onde hoje é o Setor Anhanguera, próximo a Avenida José de Brito. “Após a morte dele, em abril de 1962, as pessoas começaram a visitar o túmulo dele, levar velas, oferendas”, disse o professor explicando o início da devoção. “Colocaram na cruz, sobre o lugar onde ele foi assassinado, algumas palavras que diziam assim: aqui repousa Pedro Milagroso, aquele em que os bárbaros soldados assassinaram

Segundo o professor, Pedro Milagroso foi assassinado por dois policiais militares do destacamento de Pedro Afonso, que estavam à serviço em Araguaína na época. “Araguaína só tinha dois policiais e pertencia ao destacamento de Pedro Afonso”, explicou.

De acordo com Raylinn, o prefeito Casimiro de Abreu, que foi o primeiro prefeito da cidade, determinou que fosse cavado outro lugar para colocar os restos mortais de Pedro Milagroso, e nesse momento que foi criado o Cemitério São Lázaro.

O livro
O objetivo do historiador em publicar um livro sobre Pedro Milagroso não é de perpetuar sobre a devoção dele e nem de provar que ela existe. “Porque ele existe enquanto sujeito histórico, como sujeito histórico é um sujeito que tem dados com fontes escritas que ele passou por Araguaína. Meu objetivo não é defender se ele é santo ou não, ou se os milagres realmente aconteceram ou não”, ressalta.

“Com as fontes, tento explicar, do ponto de vista histórico, como que nascem estas devoções. Quais são os mecanismos que fazem perpetuar estas devoções”, explicou o historiador. “Busquei nessa sociedade que estava em formação quais os elementos que o levaram ao martírio. Dentro desse contexto, a sociedade tinha um preconceito com aquele mendigo. Acreditava-se também que ele era gay”, completou.

Segundo Raylinn, esta história foi construída de forma a explicar a relação dele (Pedro Milagroso) com a sociedade de Araguaína que estava nascendo e como esta sociedade o rejeitou e buscou a sua morte. “Esta sociedade contribuiu para o seu fim trágico, como estes valores, esta afirmação de valores culturais, sobretudo religiosos, interferem nas relações entre as pessoas”, destacou.

O historiador finaliza afirmando que “a grande lição que tiramos da história de Pedro Milagroso é que a sociedade de Araguaína é conservadora, uma sociedade ainda muito ligada à religião, uma sociedade tradicional e que a gente não sabe lidar como o que é diferente, com aqueles que são diferentes da gente”.

Lançamento:
Acontecerá dia 19/11 (terça feira)
8h00: na GEP Livraria em Araguaína
19h30: no auditório da UFT (Universidade Federal do Tocantins) na abertura da Semana de História da UFT de Araguaína


Título: Pedro Milagroso – o mendigo que virou santo
Autor: Raylinn Barros da Silva, graduado e pós-graduado em Ensino de História pela UFT de Araguaína, professor efetivo de História na Rede Estadual de Ensino do Tocantins.
Editora Kelps (Goiânia)
Vol.1, 110 páginas.