Estado

Família acusa médico de confundir traumatismo com embriaguez no TO

A adolescente Beatriz Ribeiro de Sousa, de 14 anos, foi vítima de um acidente de trânsito em Arapoema, no norte do Tocantins. A garota foi atropelada por um motoqueiro na TO-232 quando voltava de uma festa agropecuária com algumas amigas. No hospital do município, o médico de plantão disse que o mau estar sentido pela garota, como vômito e sonolência, estaria relacionado com a ingestão de bebida alcoólica. Mas, dois dias depois, a menina morreu com traumatismo craniano.

O atropelamento aconteceu no dia 5 de julho e mais de um mês depois, o acidente ainda não foi esclarecido pela polícia e a suposta negligência no atendimento médico continua sendo apurada pela diretoria do hospital da cidade.

Beatriz Ribeiro de Sousa morreu após ser atropelada em Arapoema (Foto: Sônia Regina de Sousa/Arquivo Pessoal)
Beatriz Ribeiro de Sousa
morreu após ser atropelada
em Arapoema (Foto: Sônia de
Sousa/Arquivo Pessoal)

Segundo testemunhas, com o impacto do atropelamento, a menina foi lançada a uma distância de 200 metros. Ela foi socorrida e levada para o Hospital Regional de Arapoema. Lá ela foi recebida pelo médico de plantão. Na avaliação do profissional, a garota que apresentava escoriações pelo corpo, sonolência e vômitos, estava sob os efeitos de bebida alcoólica, como está descrito na ficha da paciente. No documento, também foi citado que ela não respondia às solicitações verbais.

O diagnóstico chamou a atenção da avó de Beatriz que a acompanhou no hospital. De acordo com dona Caetana Barbosa dos Santos, a neta era evangélica e nunca tinha ingerido bebida alcoólica. Segundo ela, mesmo tendo sido vítima de um atropelamento, Beatriz não foi submetida a qualquer exame.

“Eu perguntei: ‘Doutor a Beatriz continua do mesmo jeito. Ela chegou aqui 2h da manhã e agora são 5h’ e ela continua vomitando e não escuta o que eu estou falando para ela. Ele falou: ‘Não, é efeito da bebida’. Não fez exame algum, só falou que ela estava bêbada e saiu”, argumentou.

A tia da vítima, Sônia Regina de Sousa, contou que ao ver o estado de saúde da sobrinha, a família decidiu levar Beatriz para outra unidade. Mas o hospital não teria disponibilizado a ambulância para realizar a transferência porque na avaliação do médico plantonista não havia necessidade. “O médico disse que não daria encaminhamento para ela, que se a família quisesse que procurasse carros particulares e tirasse por conta própria”.

Na avaliação dos médicos, a garota estava sob os efeitos de bebida alcoólica, em Arapoema (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Na avaliação dos médicos, a garota estava sob
os efeitos de bebida alcoólica, em Arapoema
(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

A família se mobilizou e conseguiu ajuda da Secretaria de Saúde de Arapoema que cedeu uma ambulância. Beatriz foi transferida para Araguaína no dia 6 de julho. Na unidade, ela passou por exames que diagnosticaram traumatismo no crânio. Em estado grave, a paciente foi encaminhada para o Hospital Geral de Palmas para fazer novos exames por causa da perda da audição. No dia seguinte, em Palmas, os exames detectaram fraturas graves por toda a cabeça. O estado de saúde dela piorou, ela não resistiu e morre.

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou como causas da morte da menina, traumatismo craniano e hemorragia. Em Arapoema, os médicos responsáveis pelo atendimento de Beatriz foram procurados, mas eles não foram encontrados para comentar o caso. Os profissionais também não atenderam aos telefonemas.

Pais de Beatriz lamentaram a morte prematura da filha, em Arapoema (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Pais de Beatriz lamentaram a morte prematura da
filha, em Arapoema
(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

O diretor do hospital, Reinaldo Ribeiro Cruz, informou que não houve negligência médica por parte da unidade. “A Beatriz foi atendida, os médicos olharam, fizeram exames físicos, colocoram em observação e não encontraram nada de anormal, notaram que ela estava aparentemente alcoolizada”. Sobre o fato de a garota não ter sido levada para outro hospital, o diretor disse que os médicos não acharam necessário. O diretor ainda informou que a unidade não possui equipamentos adequados para a realização de exames específicos e que uma reunião já foi feita e que aparentemente a conduta dos profissionais foi normal.

A denúncia de negligência médica foi feita ao Ministério Público Estadual. “Meu Deus do céu, eu não tenho mais minha filha. Eu sinto doer por dentro. Eu nunca esperava ficar sem ela. Para mim, a minha filha iria me enterrar e acabei vendo ela nesta tortura”, lamentou o pai José Maria Ribeiro.

O Conselho Regional de Medicina (CRM) afirmou desconhecer o caso. A Polícia Civil informou que um inquérito foi aberto para apurar o atropelamento.

(G1)