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ANÁLISE: Trump sinaliza com o discurso da desunião

Presidente americano fala à nação diante de Congresso dividido pela construção do controverso muro na fronteira com o México.

Um muro aprofunda as divisões no Congresso americano, que receberá hoje à noite o presidente Donald Trump para o seu segundo discurso sobre o Estado da União. Em horário nobre, o rito prevê o apelo anual do comandante em chefe pela unidade partidária em torno de seu programa de governo. Mas, com uma semana de atraso e proferido por um presidente intempestivo, o discurso deste ano já é chamado, sem exagero algum, de “estado da desunião”.

Não é para menos. Em dois anos no comando da Casa Branca, Trump testou limites e esticou a corda na mais longa paralisação do governo da história dos EUA, que atrasou os salários de 800 mil servidores federais. Saiu desgastado e humilhado do embate. Mas, ainda assim, insiste em cumprir a principal promessa de campanha para alegrar apenas a base fiel que o sustenta.

O governo federal ficou paralisado durante 35 dias porque os democratas, que agora têm a maioria na Câmara dos Representantes, recusaram-se a aprovar no Orçamento a construção de um muro de US$ 5,7 bilhões na fronteira entre EUA e México. Uma espécie de trégua reabriu o governo. Mas só até o próximo dia 15.

Qualquer tentativa de conciliação ou unidade bipartidária, antecipada por seus assessores para o discurso de hoje, foi descartada no último domingo pelo presidente. Em mais uma leva de tuítes, acusou os democratas, em especial a líder da maioria, Nancy Pelosi, de não impedirem tráfico de seres humanos, drogas e criminosos na fronteira.

Ao lado do vice-presidente Mike Pence, o presidente dos EUA, Donald Trump, reage contrariado durante conversa com a líder da minoria democrata na Câmara, Nancy Pelosi, durante encontro na Casa Branca, em imagem de arquivo — Foto: AP Photo/Evan Vucci

Ao lado do vice-presidente Mike Pence, o presidente dos EUA, Donald Trump, reage contrariado durante conversa com a líder da minoria democrata na Câmara, Nancy Pelosi, durante encontro na Casa Branca, em imagem de arquivo — Foto: AP Photo/Evan Vucci

Esta obsessão de Trump pelo muro não empolga a maioria dos americanos. Ao contrário, 66% dos entrevistados pela CBS discordam de sua ameaça de declarar emergência nacional no país para construí-lo caso o Congresso rejeite seu financiamento. Partidários republicanos também mostram-se reticentes em segui-lo neste confronto.

Em condições normais, um presidente capitularia. Enviaria sinais de fumaça a seus adversários no Capitólio. Mas Trump já mostrou que prefere navegar em águas turbulentas. Por isso, é difícil acreditar numa mudança de direção no atual estado desunido da nação americana.