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A cada 10 locais atingidos, 3 voltaram a apresentar manchas de óleo após limpeza no Nordeste

Um terço das mais de 280 localidades atingidas pelo óleo no Nordeste chegaram a ser limpas, mas viram a poluição retornar ao menos uma vez. Ao todo, 83 praias e outras localidades tiveram a reincidência da contaminação, o que representa 29,5% dos locais afetados pelo petróleo cru que começou a surgir no fim de agosto.

Os dados sobre a volta da poluição são parte de um levantamento do G1 com base em todos os 23 relatórios divulgados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) sobre a situação das praias desde o começo do desastre ambiental. A análise mostra que, em alguns locais, houve até três “idas e vindas” do óleo. Além disso, aponta que todos os nove estados apresentaram em algum momento o retorno da contaminação entre os dias 29 de setembro e 30 de outubro.

Reincidência de manchas de óleo nas praias  — Foto: Arte G1 Reincidência de manchas de óleo nas praias  — Foto: Arte G1

Reincidência de manchas de óleo nas praias — Foto: Arte G1

Veja abaixo, quais são as praias e os estados com mais reincidências.

Localidades

O primeiro avistamento do que se tornou o maior desastre ambiental na costa brasileira ocorreu em 30 de agosto no estado da Paraíba. Desde então, a mancha foi limpa e voltou mais de uma vez em 16 praias do Nordeste. Em alguns casos, a sujeira chegou a aparecer quatro vezes nas praias, ou seja, três reincidências foram registradas.

Ao todo ocorreram 103 reincidências em 83 municípios diferentes. Veja a lista dos municípios onde elas aconteceram mais de uma vez:

  • Guarajuba, Camaçari (BA): 3 reincidências;
  • Jacumã, Ceará-Mirim (RN): 3 reincidências;
  • Praia de Gramame, Conde (PB): 3 reincidências;
  • Barra do Cunhaú, Canguaretama (RN): 2 reincidências;
  • Genipabu, Extremoz (RN): 2 reincidências;
  • Perobas, Touros (RN): 2 reincidências;
  • Praia de Areia Preta, Natal (RN): 2 reincidências;
  • Praia de Flexeiras, Feliz Deserto (AL): 2 reincidências;
  • Praia de Zumbi, Rio do Fogo (RN): 2 reincidências;
  • Praia do Japonês, Camaçari (BA): 2 reincidências;
  • Rio Vermelho, Salvador (BA): 2 reincidências;
  • Sagi, Baía Formosa (RN): 2 reincidências;
  • Carneiros, Tamandaré (PE): 2 reincidências;
  • Ilhas dos Poldros, Araioses (MA): 2 reincidências;
  • Pau Amarelo, Paulista (PE): 2 reincidências
  • Praia do Forte, Mata de São João (BA): 2 reincidências.

Nas outras praias com reincidência da contaminação, o óleo foi limpo e ressurgiu em um único momento.

Estados

O estado do Rio Grande do Norte, além de ter sete das 16 praias com mais de uma reincidência das manchas, também foi o estado com maior registros de retorno do óleo. Foram 36 registros de praias com manchas que foram limpas e, depois, voltaram a apresentar sujeira. O segundo lugar está com a Bahia, com 24 registros. Veja a lista:

  1. Rio Grande do Norte: 36 reincidências;
  2. Bahia: 24 reincidências;
  3. Pernambuco: 13 reincidências;
  4. Paraíba: 9 reincidências;
  5. Maranhão: 6 reincidências;
  6. Sergipe: 6 reincidências;
  7. Alagoas: 4 reincidências;
  8. Ceará: 3 reincidências;
  9. Piauí: 2 reincidências;

Apesar de ser o estado com mais casos de reaparecimento do petróleo, o Rio Grande do Norte não é o que tem mais praias afetadas. No balanço divulgado pelo Ibama na quinta-feira (30), quando o desastre das manchas de óleo completou dois meses, o estado da Bahia liderava a lista de localidades atingidas.

Veja o ranking de estados com mais locais afetados:

  1. Bahia: 74 localidades atingidas;
  2. Rio Grande do Norte: 51 localidades atingidas;
  3. Alagoas: 46 localidades atingidas;
  4. Pernambuco: 37 localidades atingidas;
  5. Sergipe: 20 localidades atingidas;
  6. Ceará: 18 localidades atingidas;
  7. Paraíba: 17 localidades atingidas;
  8. Maranhão: 12 localidades atingidas;
  9. Piauí: 8 localidades atingidas.

A comparação mostra que os estados com mais praias afetadas nos dois meses não são, necessariamente, os que têm mais reincidências. Isso ocorre porque o ritmo e o fluxo de aparecimento das manchas mudou ao longo do tempo, segundo pesquisadores.

Carina Böck é pesquisadora do Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia (Lamce) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Junto com outros cientistas, ela tem estudado um modelo matemático para tentar encontrar a origem do óleo.

Segundo ela, entender o caminho das manchas depende de três fatores principais: densidade do óleo, correntes marítimas e condições atmosféricas. Mesmo assim, outros fatores podem influenciar. Por isso, o grupo trabalha em etapas para tentar entender se novas localidades podem ser atingidas.

“O que pode haver, por exemplo, é que tem um óleo retido na costa e ele é remobilizado. Ele está preso e acaba soltando da costa e acaba sendo transportado novamente. Com o efeito das correntes, poderia afetar outros lugares ou até mesmo os mesmos lugares” – Carina Böck, pesquisadora da UFRJ

No dia 9 de outubro, as prefeituras das cidades afetadas no Rio Grande do Norte, estado que teve mais reincidências, tentavam discutir como resolver a limpeza e alegavam que não tinham condições de realizar o trabalho por falta de recursos. Nesta segunda-feira (28), as manchas retornaram a seis praias nas cidades de Parnamirim, Nísia Floresta e Tibau do Sul.

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Pico de contaminação e reincidência

Com dois meses de óleo no litoral nordestino, ainda não se sabe o que causou a contaminação. O pico de novas localidades atingidas ocorreu em 21 de outubro. A evolução ainda não apresenta uma tendência de queda.

O momento em que mais praias novas foram afetadas não coincide com o pico de reincidências. O balanço do dia 25 de outubro foi o que mais teve registro de manchas em locais já limpos: foram 37 reincidências neste dia.

Das 103 reincidências que o Ibama contabilizou desde o início de outubro, 72 ocorreram depois do dia 25 de outubro.

Segundo Carina Böck, da UFRJ, ainda não é possível determinar se o óleo deve atingir novas praias nos próximos dias ou se vai reaparecer em lugares que já foram limpos.

“Ainda é cedo para determinar se o óleo chegará à região Sudeste, mas condições hidrodinâmicas não descartam a possibilidade” – Carina Böck, pesquisadora da UFRJ

O próximo passo do estudo da UFRJ é criar uma nova modelagem para tentar saber para onde o óleo irá no futuro.

Balanço de ações

Nesta quinta-feira (31), o Grupo de Avaliação e Acompanhamento (GAA), formado pela Marinha do Brasil, Agência Nacional de Petróleo (ANP) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que está fazendo ações de prevenção em Abrolhos, na Bahia. Os órgãos disseram, ainda, que os estados de Ceará, Pernambuco e Paraíba estão limpos.

Localidades com limpeza em andamento, segundo o GAA: Nísia Floresta e Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte; Japaratinga e Piaçabuçu, em Alagoas; Aracaju, em Sergipe; e Cairu, Ilhéus, Moreré, Camaçari e Trancoso, na Bahia.

Até esta quinta, foram retiradas 3.647 toneladas de resíduos de óleo das praias do Nordeste.

Manchas grandes

Jandaíra, na Bahia, foi a praia que mais sofreu com grandes resíduos de óleo, segundo os balanços do Ibama. A localidade foi a que mais vezes apareceu nos relatórios com o status que equivale a manchas maiores que 10% da praia. Ao todo, em 18 relatórios do Ibama algum ponto dessa praia, que fica próxima à divisa com Sergipe, apareceu com manchas grandes: a primeira, em 4 de outubro, e a última na segunda-feira (28).

A praia de Jandaíra não figura na lista de reincidências porque, segundo o Ibama, ela nunca chegou a ficar limpa desde que começaram as manchas ali. O status da praia variou entre manchas grandes e pequenas e nunca foi registrado, pelo balanço do Ibama, o desaparecimento do óleo na localidade.

Em entrevista ao G1 no dia 15 de outubro, o secretário de meio ambiente do estado da Bahia, João Carlos Oliveira, disse que a região onde fica Jandaíra concentra maior quantidade de óleo no estado.

“Nós fizemos avaliação e os municípios de Conde, Jandaíra e Entre Rios, que ficam na região onde se concentra a maior quantidade de óleo, esses municípios estão com pessoas trabalhando, Corpo de Bombeiros acompanhando, a Defesa Civil, e a Petrobras também com contingente na praia”, disse o secretário na data.

Ao G1, a prefeitura de Jandaíra disse no dia 15 que esperava recursos do Governo do Estado com o decreto de situação de emergência para custear ações de limpeza. Até então, as operações de recolhimento do óleo estavam sendo custeadas pelas prefeituras, com a ajuda de doações de grupos de voluntários.

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Metodologia

Para este levantamento o G1 analisou a situação das praias atingidas e registradas em 23 relatórios divulgados entre os dias 6 e 30 de outubro. O órgão não disponibiliza um banco de dados acessível para o cidadão analisar a movimentação das manchas no Nordeste. Os relatórios do instituto foram divulgados apenas em formato PDF até o dia 19 de outubro. A cada novo arquivo, o PDF anterior era substituído, impossibilitando comparações mais profundas. O primeiro balanço foi feito no dia 26 de setembro, embora a primeira mancha tenha aparecido 27 dias antes, em 30 de agosto.

Nesses balanços, as localidades que em algum momento apresentaram óleo estão em lista, estejam elas sujas de óleo na data de revisão ou não. Cada localidade tem um “status” apontado pelo Ibama.

As praias e localidades listadas nos balanços foram classificadas em quatro categorias: oleadas manchas (mais de 10% da praia com óleo); oleadas vestígios (menos de 10% com manchas); não observado (sem óleo na data do balanço); em limpeza (classificação abandonada pelo Ibama no início de outubro).

Para verificar os casos de reincidência, a reportagem considerou apenas os registros que mudaram de “sem óleo” para “oleada” no balanço seguinte.

O levantamento não leva em consideração o dia exato em que o órgão registrou a detecção da mancha ou sua limpeza, mas sim a data de divulgação dos documentos.

Fonte: G1 – Natureza